Indulgências

As indulgências são uma maneira de a Igreja, “como ministra da redenção”, intervir por um penitente, servindo-se da autoridade que Deus lhe conferiu para eximir todas as punições temporais por conta de pecados (indulgência plenária), ou uma parte delas (indulgência parcial), pelo emprego da satisfação conquistada por Cristo e pelos santos. Em outras palavras, trata-se de uma aplicação da comunhão dos santos, que acertadamente vem em auxílio de um irmão ou irmã que precisa de ajuda. São Paulo já exortava os gálatas a “carregar os fardos uns dos outros” (Gl 6, 2).

Porém, para receber a indulgência, o penitente precisa ter as disposições necessárias e cumprir as condições predeterminadas, pois ninguém pode ser salvo ou curado sem seu próprio consentimento e esforço pessoal. Assim como antigamente um indivíduo podia ver na compra de uma indulgência um jeito fácil de limpar a consciência, outro penitente pode fingir ou pensar que a prática de um punhado de boas obras paga qualquer pena. Tal atitude se contrapõe à contrição e a qualquer esforço de conversão.

Como ganhar uma indulgência?
Como regra geral, uma indulgência plenária é outorgada sob as seguintes condições: o penitente tem de realizar a obra à qual a indulgência está anexa, fazer uma Confissão sacramental, participar da Comunhão eucarística e oferecer orações nas intenções do Santo Padre. Para receber a indulgência plenária, o penitente também precisa ter a disposição de se desapegar de qualquer pecado. Se essa disposição não for plena, ou se as condições não forem satisfeitas, então a indulgência será parcial, contanto que o penitente tenha um coração contrito e leve a cabo ao menos uma parte das ações.

Poucas pessoas discordarão de que o aspecto mais desafiador desses requisitos não são as condições, especialmente para alguém que já reza e frequenta os sacramentos. As obras a praticar também não são nada pesadas — na maioria das vezes consistem em oração, leitura das Escrituras ou obras de misericórdia corporais ou espirituais etc. O aspecto verdadeiramente desafiador é o desapego de todo e qualquer pecado. Uma pessoa pode até estar contrita de seus pecados, mas desapegar-se de todo e qualquer pecado é outra história. Alguém poderia perguntar se é mesmo possível que isso aconteça e por que sequer nos deveríamos dar ao trabalho de ir atrás de indulgências em primeiro lugar.

Para citar Jesus: “Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19, 26). Jesus pronunciou essas palavras depois de dizer a um jovem rico e aos Apóstolos que eles tinham de ser perfeitos. O jovem partiu triste, e os Apóstolos disseram que isso era impossível. Mas Jesus não falou que eles teriam de fazê-lo com suas próprias forças. Ele disse a eles que o seguissem. Também vale lembrar que a palavra “perfeito” em português traduz a palavra grega teleios, que não significa sem falha, mas pleno e ordenado para o seu fim próprio. Em outras palavras, Jesus estava dizendo ao jovem e aos Apóstolos para subordinarem tudo ao relacionamento com Deus, e assim eles estariam unidos a Deus, o fim próprio de todo homem e toda mulher.

De modo similar, a Igreja usa o dom das indulgências para ajudar homens e mulheres a seguirem Jesus até o Céu. A Igreja sabe que, por si próprio, um indivíduo não consegue crescer em santidade ou perfeição (teleios). É impossível superar os efeitos assoladores do pecado e o mal que existe no mundo sem a graça de Deus e a prática da virtude. De fato, deste lado do Céu existe sempre o risco de escolher pecar novamente, mesmo quando se recebe uma indulgência. Mas quem permanecer perto de Jesus, quem o seguir, gozará da plenitude da salvação.

Portanto, por que não oferecer uma ajuda às pessoas que querem buscar a Deus de todo o coração? As indulgências não são um requisito da fé nem um preceito da Igreja, mas se as usamos bem, elas gradualmente nos treinam na virtude e na disciplina. Recomendando-nos a oração e as obras de misericórdia, elas nos ajudam a dar as costas para o pecado e a nos voltar a Deus e ao próximo. De fato, um penitente na terra, como membro sofredor da comunhão dos santos, pode pedir a Deus que aplique uma indulgência lucrada não a si mesmo, mas a alguém no Purgatório, a fim de que essa pessoa se purifique e entre mais depressa no Céu.

Somente Deus sabe com exatidão de que maneira se dá a remissão das penas temporais na vida de alguém. Uma pessoa pode ser libertada imediatamente dos grilhões do álcool ou da pornografia, enquanto outra só se vê livre depois de anos de esforço ou no Purgatório. A graça de Deus pode ser vista em ambas as situações.

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